Proposta por Chico Mendes, Assembleia Legislativa da Paraíba cria a Medalha Zé do Norte, cantor e compositor cajazeirense

Aprovada por unanimidade, a Medalha de Honra ao Mérito da Música Zé do Norte vai homenagear artistas da música popularNa sessão desse terça-feira (2), a Assembleia Legislativa da Paraíba aprovou, por unanimidade, a criação da Medalha de Honra ao Mérito da Música Zé do Norte, cantor, compositor, poeta, folclorista e escritor que nasceu em Cajazeiras e deu uma grande contribuição para a cultura brasileira, sobretudo a nordestina.

Por Patos 40 Graus em 03/04/2024 às 08:11:30
Aprovada por unanimidade, a Medalha de Honra ao Mérito da Música Zé do Norte vai homenagear artistas da música popular

Na sessão desse terça-feira (2), a Assembleia Legislativa da Paraíba aprovou, por unanimidade, a criação da Medalha de Honra ao Mérito da Música Zé do Norte, cantor, compositor, poeta, folclorista e escritor que nasceu em Cajazeiras e deu uma grande contribuição para a cultura brasileira, sobretudo a nordestina. A propositura foi do deputado Chico Mendes (PSB).

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Antes de formalizar o projeto, Chico Mendes pediu a colaboração de pesquisadores para um estudo sobre o homenageado. A pesquisa teve contribuição, por exemplo, do assessor Hugo Moreira, do jornalista cajazeirense Sales Fernandes, que acompanha o dia a dia da Assembleia, e do historiador cajazeirense Aguinaldo Rolim, patrono da Cadeira Zé do Norte na Academia Cajazeirense de Artes e Letras (ACAL).

Entre livros, canções e programas de rádio e TV, Zé do Norte ganhou notoriedade internacional quando sua icônica música “Mulher Rendeira” fez parte da trilha sonora do filme “O Cangaceiro”, de Lima Barreto, de 1953, escolhodo melhor longa de aventura do Festival de Cannes daquele ano.

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O jornalista Sales Fernandes, que deu a notícia da criação da medalha em primeira-mão no Olho Vivo da Rede Diário do Sertão, enfatizou a importância de Zé de Norte para a cultura brasileira.

Zé do Norte não só se destacou como músico e compositor, como também pelo teatro, e participou efetivamente do rádio e da TV. Cajazeiras, por exemplo, em vida conseguiu homenagear Zé do Norte com o festival de artes e cultura que existiu no governo Wilson Braga. Ele [Zé do Norte] teve uma contribuição fantástica nessa questão de divulgar a cultura nordestina, a cultura paraibana e também engrandecer o nome de Cajazeiras. Zé do Norte nunca escondeu em lugar nenhum que as suas origens eram a Paraíba e que era natural de Cajazeiras”, destacou Fernandes.

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História e legado

Alfredo Ricardo do Nascimento nasceu em Cajazeiras (PB), em 18 de dezembro de 1908. Era cantor, compositor, poeta, folclorista e escritor, mas antes de desenvolver tantas atividades intelectuais, pegou no pesado. Trabalhou desde os nove anos na enxada, no sertão do Estado. Depois foi apanhador de algodão e tropeiro. Sempre cantou, mas não imaginava que isso iria tornar-se uma atividade profissional.

Em 1921, foi para Fortaleza, alistou-se no Exército e acabou indo servir no Rio de Janeiro, morando, mais tarde, próximo ao morro de Mangueira. Convidado por Joracy Camargo, atuou no show Aldeia Portuguesa, obtendo grande sucesso com uma embolada de sua autoria.

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Acabou sendo levado para a Rádio Tupi onde cantou adotando o pseudônimo de Zé do Norte, em 1940. No ano seguinte, foi para a Rádio Transmissora Brasileira (atual Rádio Globo) e participou de programas, como Desligue, Faz Favor e Hora Sertaneja. Passou depois para as rádios Fluminense, Clube do Brasil, Guanabara (onde teve como sanfoneiro um iniciante João Donato) e Tamoio – nessa última, atuando como animador, organizador, cantor e declamador.

Zé do Norte publicou o livro Brasil Sertanejo em 1948 e, cinco anos depois, atuou como consultor do linguajar nortista e compositor num clássico do cinema brasileiro. Sua música Mulher Rendeira ficou mundialmente conhecida após ser incluída na trilha sonora do referido filme. “Olê muié rendera, olê muié rendá. Tu me ensina a fazê renda, que eu te ensino a namorá”. Quem nunca cantarolou essa me3lodia? Ela é atribuída a personalidade de Virgulino Ferreira, “o Lampião”, no filme “O Cangaceiro”, de Lima Barreto, de 1953, que foi considerado o melhor filme de aventura do Festival de Cannes daquele ano.

Mesmo nordestina, a música de Zé do Norte é tão enraizada no imaginário coletivo, que a maioria das pessoas interpreta “Mulher Rendeira”, como herança folclórica, de domínio público e autor desconhecido. A trilha do filme, que tem parte das músicas de outros autores, em muito contribuiu para tornar a música de Zé conhecida em todo mundo, já que, na época, a obra foi assistida em mais de 80 países e por quase 50 milhões de expectadores.

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Entre as suas mais de 100 composições, a segunda mais famosa é “Sodade Meu Bem, Sodade” (1953), gravada pela primeira vez pela cantora, atriz e diretora brasileira, Vanja Orico. Foi regravada por vários artistas como Nana Caymmi, Maria Bethânia, Raul Seixas, Geraldo Azevedo, e ainda por estrangeiros, como a cantora folkamericana Joan Baez. É dele também “Meu Pião”, gravada em 1971 e imortalizada na voz de Geraldo Azevedo.

Por volta dos anos 60, vários artistas, como Bob Dylan e a própria Baez foram buscar no folclore americano e na música da América Latina fonte de inspiração. E é num de seus primeiros discos, o “Joan Baez 5”, que encontramos a “Mulher Rendeira”, com o título de “O Cangaceiro” e com os créditos de Zé do Norte, atribuídos ao seu nome de batismo, Alfredo Ricardo do Nascimento.

Suas músicas, além de atribuídas as coisas sertanejas, têm muito lirismo, como se vê em “Sapato de algodão (“eu fui dançar/ com meu sapato de algodão/ o sapato pegou fogo/ eu fiquei de pé no chão”), outra, de versos singelos, que também é atribuída em várias regiões do Nordeste, como música do folclore, é “Lua bonita”, em parceria com Zé Martins, também de 1953 e regravada por Raul Seixas no disco “A Pedra do Gênesis” (1988).

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Boa parte de suas composições ainda necessitam de um trabalho de catalogação. Sua obra é cantada hoje no Brasil e no exterior, embora nem sempre a fonte seja citada. É o caso por exemplo de Caetano Veloso “It’s a long way” (disco “Transa” – 1972) em que no meio da canção versos de Zé do Norte são citados (“os óios de cobra verde/ hoje foi que arreparei/ se arreparasse há mais tempo/ não amava quem amei (…) arrenego de quem diz/ que o nosso amor se acabou/ ele agora está mais firme do que quando começou”), mas, nos créditos da música, eles são atribuídos ao compositor baiano.

Além de cantor e compositor, como folclorista Zé do Norte desempenhou um grande trabalho de pesquisa sobre o ritmo do “Coco”, chegando a lançar vários “LPs”.

Muitas vezes ele pegava as letras das músicas cantadas pelos cangaceiros, adaptava e registrava como dele. Mas antes que alguém o questionasse, ele dizia que se não fizesse isso, as belas canções se perderiam no tempo”, afirmou o jornalista e crítico musical, Ricardo Anísio.

O cantor e compositor baiano Xangai, já confirmou o lançamento de um disco totalmente dedicado às composições de coco compostos pelo poeta e folclorista paraibano. Zé do Norte faleceu no Rio de Janeiro, em 1979.

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Diário do Sertão

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