Caymmi, um homem de afetos, vira filme dirigido por Daniela Broitman

Kubitschek Pinheiro – MaisPB Fotos – Desirée do Valle, Leo Bandeira, Jacques Cheuchi e Julia Kurc Está em cartaz neste domingo, (30) no Cine Banguê do Espaço Cultural, o longa-metragem "Dorival Caymmi – Um Homem de Afetos", da diretora Daniela Broitman.

Por Patos 40 Graus em 29/06/2024 às 12:56:03

Kubitschek Pinheiro – MaisPB

Fotos – Desirée do Valle, Leo Bandeira, Jacques Cheuchi e Julia Kurc

Está em cartaz neste domingo, (30) no Cine Banguê do Espaço Cultural, o longa-metragem "Dorival Caymmi – Um Homem de Afetos", da diretora Daniela Broitman. Sessão Às 15h. Quem gosta de Música Popular Brasileira MPB, e conhece a obra do imenso Caymmi, não pode perder essa viagem pela vida e obra do cantor e compositor baiano, que influenciou gerações de músicos.

O documentário estreou em abril no Rio e São Paulo, na semana em que Dorival Caymmi completaria 110 anos, uma celebração para esse imensurável legado que o artista deixou para a cultura brasileira

Não custa lembrar que Dorival Caymmi conquistou o mundo na voz de Carmem Miranda e consagrou a música brasileira no exterior com seu primeiro sucesso, "O que é que a baiana tem?". Inovador que só ele, conseguiu, na maneira de compor as letras e de tocar o violão, uma referência e até hoje, uma fonte de inspiração que não seca. "Muita gente gravou Caymmi", diz Daniela Broitman.

O filme é todo conduzido por canções e descobertas, emoções – é o retrato de Dorival Caymmi na parede do mundo, como um cronista do cotidiano, que narra nos versos os costumes, anseios, a gastronomia baiana e a graça da sua, nossa gente nordestina, especialmente a história dele.

O filme de Daniela Broitman traz uma entrevista inédita com Caymmi, (84 anos), com confidências, e revela sua afetividade pelas coisas mais simples da vida. Estão lá os pescadores baianos e a espiritualidade no candomblé, todas as histórias de amor e são muitas.

A narrativa se completa com a fala dos filhos Dori, Nana e Danilo Caymmi; os amigos Caetano Veloso e Gilberto Gil; a ex-nora e compositora Ana Terra; o neto Gabriel Caymmi; o produtor e amigo Guto Burgos e a cozinheira e confidente, Cristiane de Oliveira. Imperdível!

Caymmi pelo mundo

Após sua primeira exibição na Mostra Competitiva do É Tudo Verdade, “Dorival Caymmi – Um Homem de Afetos" – sucesso total com participação em mais de 20 festivais – entre eles, os renomados DocLisboa Festival Internacional de Cinema (Portugal) e Bafici – Buenos Aires Festival Internacional de Cine Independiente (Argentina), o longa venceu o Prêmio de melhor filme do Júri Popular e o Prêmio Especial do Júri no In-Edit Festival Internacional do Documentário Musical, ganhou o Crystal Lens Award no Inffinito Brazilian Film Festival (EUA) e rendeu à diretora uma homenagem no Recine (Rio de Janeiro). Também foi convidado a participar da Womex, a maior conferência do cenário musical global.

Cineasta e jornalista, com mestrado da University of California – Berkeley, Daniela Broitman trabalhou como repórter nos jornais Folha de São Paulo e O Estadão, onde fez parte da equipe que criou o Caderno Zap!, vencedor do Prêmio Esso de Jornalismo.

Em entrevista ao MaisPB, ela fala de mil coisas sobre o filme, coisas incríveis, como encontrou Cristiane de Oliveira, que trabalhava na casa da família Caymmi, mas a gente não conta, leiam a entrevista e assistam ao filme – (o trailer está no final da entrevista) – que só passa neste no domingo, no Cine Banguê.

MaisPB – Quando começou o projeto do filme Caymmi?

Daniela Broitman – Depois de “Marcelo Yuka, no Caminho das Setas", meu longa, com esse grande artista, músico brasileiro, comecei a pensar e elaborar o projeto do filme sobre a vida e obra de Caymmi.

MaisPB – Me parece ser o primeiro longa, sobre a vida e obra de Caymmi, né?

Daniela Broitman – Sim. Que eu me lembre , "Dorival Caymmi – Um Homem de Afetos", é o primeiro sobre a vida dele, o trabalho, que entrou em cartaz nos cinemas por tanto tempo. Ele já está na 9ª semana nos cinemas de algumas cidades brasileiras, João Pessoa é uam delas, e isso é muito para ser um documentário brasileiro.

MaisPB – Quanto tempo até o filme chegar na ilha de edição?

Daniela Broitman – Olha, o embrião começou mesmo há dez anos. Demorou, porque a capacitação da verba – eu usei o dinheiro da premiação do meu filme Marcelo Yuka, o investimento que ganhamos da Agência Nacional de Cinema, que saiu em 2016 e a partir daí, eu comecei a movimentar o projeto, cuja produção levou quase cinco anos. E veio a pandemia, a paralisação de todos os projetos.

MaisPB – E teve outro edital que você ganhou, né?

Daniela Broitman – Sim, o filme é coprodução da Spcine (uma empresa de cinema e audiovisual de São Paulo). É uma realização em conjunto, e do Canal Brasil

MaisPB – Vamos falar das imagens de Caymmi na residência Marcelo Machado?

Daniela Broitman – Essas imagens eram de uma produtora que não existe mais. Elas são importantes para o filme: lá existem imagens do aniversário dos 80 dele, as imagens da Casa do Tom, mas no meu filme são inéditas, porque elas não estão no DVD A Casa do Tom. O maior trabalho mesmo foram as pesquisas. Faz parte de um projeto definir as coisas. Como o resto, a pesquisa, é a parte mais importante de qualquer filme.

MaisPB – E aquela cena em que Caymmi aparece conversando com Caetano, em Roma..

Daniela Broitman – Ah, são cenas de outro filme, o meu é 99% inédito.

MaisPB – Tem uma cena muito forte no filme, na entrevista que você fez com Nana Caymmi, e ela revela que pai e filha ficaram sete anos sem se falar. Podemos falar sobre isso?

Daniela Broitman – Sim, é muito forte. Eu só não gosto quando os jornalistas contam o filme inteiro nas matérias e aí não tem graça.

MaisPB – Como foi o encontro com Gil e Caetano?

Daniela Broitman – Foi muito bom conversar com eles. Eu quero muito que Caetano e Gil vejam o filme, eles e familiares. O Gil diz lá no filme uma coisa linda, que “enquanto ele existir, existirá Caymmi”.

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MaisPB – Foi muito bom ter feito esse filme, né?

Daniela Broitman – Sim. Foi um mergulho na obra de Caymmi, muito profundo, me fez muito bem saber mais sobre a vida, porque Caymmi é um poeta da vida, altamente espiritualizado. Eu aprendi muitas coisas fazendo o filme, de me aprofundar na obra desse artista, das imagens com ele e sobre ele, de ouvir as canções de Caymmi, que elevam a nossa frequência, falando em termo de física quântica – as canções dele trazem essa vibração alta, uma frequência nas alturas, pelo menos pra mim. Me deixam num estado quase meditativo, o estado que ela vivia, contemplativo.

MaisPB – Ficou alguma coisa fora no filme?

Daniela Broitman – Ficou muita coisa fora do filme, não só dos depoimentos dele e os entrevistados todos, Gil, Caetano, Dori, Danilo, Nana e Guto. Eu conversei com cada um cerca de duas horas. E aí entram cinco minutos de cada um no filme – esse é o grande sofrimento para quem está dirigindo o filme, é tipo A Escolha de Sofia.

MaisPB – Vamos falar de seus filmes anteriores, "Marcelo Yuka, no Caminho das Setas" , que é sobre música, é muito importante, já que o novo é com a música de Caymmi?

Daniela Broitman – Eu já fiz 4 filmes – A Voz da Ponta – A Favela Vai ao Fórum Social Mundial", "Meu Brasil" e "Marcelo Yuka no Caminho das Setas". O filme sobre o músico fundador da banda O Rappa, que foi exibido nos cinemas, GNT, Canal Brasil, TV Brasil, Netflix e outras plataformas, e conquistou pela minha produtora Videoforum Filmes o Prêmio de Incentivo à Qualidade do Cinema Brasileiro (Ancine).

MaisPB – Ah, o filme do músico Marcelo Yuka, que levou 9 tiros, num assalto no Rio de Janeiro? Tem essa parte no filme?

Daniela Broitman –Sim, é uma parte pequena do filme, mas sim. Esse filme é bem importante, porque junta os dois gêneros, que eu estava trabalhando com questões ligadas à justiça social, música e arte. O Yuka se transformou num ativista social pela paz. Ele já era, autor de muitas canções, como Minha Alma, que é Paz Sem Voz Não é Paz é Medo, e outras que estouraram na banda. Muitos artistas gravaram essa canção.

MaisPB – Esse filme Marcelo Yuka, no Caminho das Setas", teve muita repercussão?

Daniela Broitman – Teve sim, participou de vários festivais – ganhou alguns prémios e por causa da qualidade do filme, a minha produtora Videoforum Filmes, ganhou o Prêmio de Incentivo a Qualidade do Cinema Brasileiro do Cinema Brasileiro, que é um prêmio importante do Audiovisual da Agência Nacional de Cinema. Esse filme foi muito bom para minha trajetória, e da minha produtora – foi exibido na Netflix.

MaisPB – Uma cena muito bonita no filme, foi a participação da Cristiane Oliveira, que trabalhava na casa da família Caymmi. Vamos falar sobre esse momento?

Daniela Broitman – Eu já estava querendo encontrar a Cristiane, quando eu soube dela, eu queria muito que ela participasse do filme. Durante a pesquisa, a gente não a encontrava de jeito nenhum, ninguém tinha o contato dela. Foi mágico nosso encontro.

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MaisPB – Como assim?

Daniela Broitman – Fomos para Minas entrevistar Nana, na cidade na casa em Pequeri, que foi onde Dorival Caymmi morou com a mulher e os filhos. Fui com minha equipe filmar o Dori em Petrópolis, e depois, para Pequeri (antigamente era chamada de São Pedro de Pequeri) Nós tínhamos uma entrevista com Nana na parte da tarde, chegamos pela manhã e fomos conhecer a cidade. Na estação do trem e botei a câmara e lá e chega uma moça e pergunta – “o que vocês estão fazendo aí, filmando o quê? – quando eu disse que era um filme sobre Caymmi, ela disse "Ah, seu Dorival?", eu trabalhei na casa dele….”

MaisPB – Ué, o personagem chegou até você?

Daniela Broitman – Eu a abracei e disse que há meses procurávamos por ela, que não acreditou. Vamos gravar agora? Ela só pediu para se arrumar e já começamos a filmar. Foi incrível – a única entrevista que a gente usa é só uma câmara, porque não estava planejado. Muito feliz de ter encontrado a Cristiane. A gente até achou que era “Pai Dorival” que estava nos iluminando. E foi…

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